A pandemia acelerou a transição do mundo VUCA para o mundo BANI. O conceito VUCA foi, por muito tempo, utilizada para aconselhar empresas a se desenvolverem e navegarem em um cenário de volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade.
O conceito atuava principalmente como uma estrutura para a criação de sentido nas incertezas e em um mundo em constante mudança, cada vez mais interligado e digital.
Contudo, a pandemia nos trouxe questões mais complexas para resolver e a estratégia VUCA foi insuficiente perante as contingências que se apresentaram, uma vez que poucas empresas estavam verdadeiramente prontas para o que aconteceu.
Assim surgiu uma nova denominação que fala do cenário atual, levando em conta as mudanças da pandemia e outras que poderão surgir: o mundo BANI.
Diferenças entre VUCA x BANI
O conceito VUCA foi introduzido ao mundo pelo Exército dos Estados Unidos durante a Guerra Fria, nos anos 80, para designar as mudanças que a sociedade estava enfrentando e as estratégias militares que deveriam ser adotadas a partir de então. Por volta de 2002 a ideia se popularizou entre corporações para moldar estratégias disruptivas.
O conceito BANI foi desenvolvido pelo antropólogo, autor e futurista norte-americano Jamais Cascio, que observou que o VUCA estava obsoleto e não mais funcionava em um mundo tomado pela pandemia. BANI significa “Brittle, Anxious, Nonlinear, Incomprehensible”, ou Frágil, Ansioso, Não-linear e Incompreensível, em tradução livre. O acrônimo carregaria a chave para que empresas possam prosperar e trazer disrupções sob a nova ótica que surgiu em 2020.
“Um paralelo intencional com VUCA, BANI é uma estrutura para articular as situações cada vez mais comuns nas quais a simples volatilidade ou complexidade são lentes insuficientes para entender o que está acontecendo”, dizJamais. “Situações em que as condições não são simplesmente instáveis, são caóticas; nos quais os resultados não são simplesmente difíceis de prever, e sim completamente imprevisíveis. Ou, para usar a linguagem particular desses frameworks, situações em que o que acontece não é simplesmente ambíguo, é incompreensível.”
De acordo com Jamais, estamos suscetíveis a catástrofes a qualquer momento, e todas as empresas estão construídas sobre uma base quebradiça, que pode desmoronar da noite para o dia. É preciso aprender a trabalhar sabendo que o perigo está à espreita.
Todo esse medo constante ocasionado pela fragilidade do mundo gera ansiedade, uma das doenças mais comuns das gerações atuais. O mundo está ansioso, e isso se reflete no mercado de trabalho. Estamos vivendo no limite, observando as doenças e a morte cada vez mais de perto, e isso ocasiona um senso de urgência, que pode acabar pautando muitas decisões.
Segundo o antropólogo, estamos vivendo em um mundo cujos eventos parecem desconectados e desproporcionais, graças ao estranhamento e esgotamento ocasionados pelo isolamento social. Sem uma estrutura bem-definida e padronizada, não é possível fazer organizações estruturadas. Logo, planejamentos detalhados e de longo prazo podem não fazer mais sentido em um mundo BANI.
De acordo com Jamais. “Tentamos encontrar respostas, mas as respostas não fazem sentido. Mais dados ? até mesmo big data ? podem ser contraproducentes, sobrecarregando nossa capacidade de entender o mundo, tornando difícil distinguir ruído de sinal. A incompreensibilidade é o estado final da sobrecarga de informações”. Não existe mais certeza sobre nada, assim, o excesso de controle pode ser uma farsa.
No contexto fragilidade, é preciso resiliência e colaboração, inclusive com concorrentes, além de trabalhar a diversidade em várias esferas (equipe, produtos, serviços e modelos de negócios), e adotar estruturas mais bem distribuídas.
Em relação a ansiedade, entre as maneiras de se lidar com esse ponto estão trabalhar a empatia, incluindo a autoempatia, o mindfulness, a segurança psicológica dentro das organizações, a escuta e até a vulnerabilidade, bem como criar caminhos para a cocriação, com a intenção de pensar em cenários mais positivos.
Entre as habilidades necessárias para lidar com essa falta de compreensão e para conseguir navegar em tanta inconstância estão, principalmente, transparência, ética, intuição, experimentação e aprender a aprender.